Mito de Hermafrodito fala sobre a sexualidade
Mitologia, desejo e transexualidade*
Platão (428 a.C. - 348 a.C.), apud Nicola (2005) defendia no século IV a.C. que originalmente o ser humano foi dividido em três gêneros sexuais: o masculino, o feminino e o andrógeno. Estes últimos possuíam os dois órgãos, o masculino e o feminino. Então, os três tipos de seres foram divididos. Segundo a mitologia, os chamados de homossexuais foram criados masculinos e divididos em duas partes.
Para o filósofo, o instinto sexual é o desejo de recompor a unidade originária. Os chamados de heterossexuais são originados da separação de um ser andrógeno em duas partes, a masculina e a feminina. A chamada homossexual feminina é originada de um ser feminino dividido em duas partes. Platão dizia que o amor homossexual era preferível ao heterossexual, pois ia além da procriação. Estava inclinado a um desenvolvimento puramente espiritual. O amor para esse autor era o desejo da recomposição da unidade.
Ainda entre os gregos, havia outro mito sobre a origem do que a ciência biológica denomina hoje de intersexualidade. Hermafrodito era um deus grego, filho de Afrodite, a mais bela deusa, e Hermes, deus esperto e matreiro. Da união dos dois resultou um dos mais belos seres de esplendida beleza. Foi criado por ninfas da floresta de Ida e aos 15 anos foi conhecer o mundo. Na sua viagem, perto de um lago, Salmácis, uma ninfa, ao conhecê-lo, apaixonou-se perdidamente por ele.
Hermafrodito despiu-se e entrou nas águas vazias do lago. Salmácis, que estava escondida, então saiu de trás duma árvore e mergulhou. Em seguida abraçou e beijou o moço violentamente. Hermafrodito resistiu, mas a ninfa pediu aos deuses para que nunca mais os separassem. O pedido da ninfa foi atendido e os seus corpos se fundiram num só com dois sexos. Hermafrodito, aflito e envergonhado, fez então seu próprio voto, amaldiçoando o lago de forma que todo aquele que ali se banhasse seria igualmente transmutado, como ele próprio. Foi a partir deste mito que se batizaram os conceitos de hermafrodita, hermafroditismo, androginia e mais recentemente, intersexualidade.
Para Hermafrodito a união com a ninfa representa o enfraquecimento de suas qualidades unicamente masculinas, pois essas se misturaram as femininas. Já para a ninfa, a união representou fortalecimento de suas qualidades, que foram enriquecidas com as características masculinas de Hermafrodito. Através do mito percebe-se a desqualificação do feminino, e um triste destino, para aquele que apresentar ambigüidade sexual (Leite Junior, 2008).
*Pedro Paulo Sammarco Antunes é psicólogo. Atualmente está cursando doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2010 defendeu o título de mestre em Gerontologia pela mesma instituição. Concluiu sua pós-graduação lato-sensu em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 2008. Tem experiência na área de psicologia clínica com ênfase em sexualidade humana.
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