Noite de uma sexta-feira de janeiro na capital paulista. Enquanto o movimento de carros e de gente nos bairros de Pinheiros, Lapa e na região central de São Paulo aumenta, em outra ponta, no extremo leste da cidade, a 40 quilômetros do epicentro gay, um grupo de sete amigos – cinco meninos e duas meninas – se encontra no terminal de ônibus de São Mateus. Dali, eles seguem caminhando pela Avenida Sapopemba, no bairro de mesmo nome e uma das maiores da cidade.
Pelo trajeto, outros gays e lésbicas seguem na mesma direção e não é muito difícil identificá-los. Os meninos basicamente se vestem de duas maneiras: alguns optam por calças e camisetas mais justas e cabelos arrojados; outros fazem o estilo “mano” – meio rapper, meio surfista – e o boné é item quase obrigatório. Em comum, todos têm o mesmo destino: o número 12.645 daquela avenida, onde fica localizada a boate que está inserindo a zona leste no circuito gay da noite paulistana, a Disturbia.
É lá, sempre as sextas e aos sábados, em que gays e lésbicas moradores da região e curiosos de outras partes da cidade se juntam para se jogar na pista ao som dos hits pop do momento – os mesmos que tocam nos outros clubes da cidade. O clima é despretensioso e, para quem está ali, a palavra carão é desconhecida. O que vale é a simples e pura diversão.
“Muitos dos que estão aqui sabem que até mesmo nas boates do centro de São Paulo não existe essa liberdade. Quando a madrugada vai esquentando, lá pelas quatro, cinco horas da manhã, a trilha sonora vai mudando. Rola competição de bate cabelo na pista, toca funk, axé, forró. Quem está aqui espera por isso”, revela Adriano Paes Leme, um dos sócios da casa.
O espaço que originalmente funcionou como um galpão, também já abrigou casas de shows de gêneros como sertanejo, samba e forró até se transformar em clube gay há quatro anos. Mas foi nos últimos dois anos, quando Adriano assumiu a casa, que a Disturbia se firmou na cena local e passou a conquistar público cativo. O DJ residente da casa, Andhy Becker, garante que o principal diferencial dali é a pista fiel. “As pessoas já conhecem o meu som, curtem o meu trabalho, me cumprimentam e cobram quando não toco aqui”, revela o moço que comanda as picapes.
Por estas mesmas picapes, já passaram DJs bem conhecidos de quem frequenta as boates gays do centro da capital. Nomes como Robson Mouse e Breno Barreto estão na lista. O palco também costuma reservar boas surpresas para quem frequenta a Disturbia. A cantora Amannda foi uma das estrelas da cena a deixar sua marca na casa com os seus maiores sucessos. Drags como Striperella e Robytt Moon também já se apresentaram por lá e shows de gogo boys são uma constante.
Um dos diferenciais do clube é também abrir espaço para os talentos da região. Na noite da visita da JUNIOR, por exemplo, a principal atração da noite foi a cantora Tamires Alves e o seu grupo de bailarinos, todos moradores das redondezas. No palco, ela soltou a voz afinada e requebrou o corpo recheado ao som das músicas mais rebolativas da diva pop Beyoncé. Tudo sob o olhar atento e de admiração do público.
O bar da Disturbia também reserva algumas peculiaridades. O cardápio é extenso e reserva desde surpresas como Catuaba e Jurupinga até whiskies mais caros. O vinho é vendido em garrafas de plástico e é uma das bebidas mais pedidas. Até mais comum do que cerveja, por exemplo. Mas o carro-chefe é, sem dúvidas, o Duelo. O drink original é uma espécie de cachaça saborizada em versões como morango e pêssego. O bar da casa faz a própria versão batida com gelo e leite condensado e o coquetel é entregue numa garrafa de 500 ml. O sabor adocicado vence facilmente qualquer tipo de receio, mas é preciso estar atento. O teor alcoólico de 13,5% garante o efeito em poucos instantes e pode deixar a noite bem animada.
Para que a fama da Disturbia não siga o mesmo destino das dezenas de bares e clubes gays da zona leste que abrem e fecham em pouco tempo, o sócio Adriano Paes Leme trabalha na reforma da casa. Dentro de poucos meses, a boate deve ganhar um mezanino e um terraço aberto para fumantes. A decoração deve ser incrementada, bem como banheiros e bares melhorados. Adriano também promete reforçar a programação do clube com pencas de atrações para que o bate-cabelo e a alegria da pista sejam sempre as marcas da pista.
Disturbia Club
Avenida Sapopemba, 12645 – Sapopemba
Sextas e sábados, a partir das 23h30
Ingressos: R$ 10.
(11) 99983-0715
Guinga’s Bar
Um dos primeiros a apostar no potencial gay da região, o bar funciona em cima de um açougue. O karaokê e uma pista garantem o fervo dos mais animados.
Avenida Sapopemba, 13780
Quinta, das 20h às 4h; sexta e sábado, das 22h às 6h; domingo, das 19h às 4h
Ingressos: R$ 8 a R$ 14.
(11) 98755-4400
Look Bar
Clima de boteco e música intimista para bater papo ou fazer esquenta com os amigos.
Rua Itapura, 877 – Tatuapé
Diariamente, a partir das 17h
(11) 6225-0453
A pista da boate Disturbia, alegria da Zona Leste paulistana
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