quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A revolução que o medicamento Truvada pode causar no tratamento e profilaxia da Aids é tema de reportagem da H Magazine #7

O Brasil estuda aprovar o uso do medicamento Truvada, uma combinação de retrovirais que, segundo pesquisas, pode diminuir as chances de contágio do HIV para entre 50% e 74%. A revista H Magazine que acaba de chegar às bancas traz uma reportagem bem detalhada sobre o medicamento e sua ação.

Em outubro de 2010, uma pesquisa realizada por centros do mundo inteiro  concluiu que o Truvada poderia ser um grande avanço no combate à epidemia da AIDS, diminuindo em até 43% a chance de uma pessoa saudável contrair o vírus quando usado como método adicional ao preservativo. Verificou-se que este percentual poderia ser mais alto conforme o uso regular do medicamento, podendo, inclusive, chegar a 90%.

Brenda Hoagland, coordenadora do estudo no IPEC, conversou com a equipe da H MAGAZINE para explicar os resultados deste estudo e o uso do Truvada. O primeiro passo é entender que o Truvada pode ser usado não só como tratamento para o HIV, mas também como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). PrEP nada mais é que o uso de medicamento antiretroviral como forma de prevenção da infecção pelo HIV.

O uso de medicamentos antiretrovirais já é conhecido e usado nas seguintes situações: acidentes ocupacionais, após violência sexual e no sexo consentido onde há risco de se infectar pelo HIV, porém nestes casos é chamado de PEP (profilaxia pós-exposição). Também é conhecido o uso de antiretrovirais durante a gravidez de mulher HIV positiva com o objetivo de evitar a transmissão para o filho. Além disso, recentemente foram publicados resultados de estudos com casais sorodiscordantes que mostraram que o uso de tratamento antiretroviral por parte do parceiro positivo reduz o risco de infectar o parceiro negativo em até 96%.

A PEP sexual consiste no uso de medicação antiretroviral nos casos em que houve risco de exposição ao HIV em relação sexual consentida, como nas relações sorodiscordantes. A PEP sexual é oferecida nos serviços de saúde e emergências, porém ela só poderá ser administrada até 72 horas após a exposição de risco para ser eficaz.

Quanto à PrEP com Truvada, esta ainda não pode ser oferecida no Brasil, pois ela ainda não tem registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializada em território nacional. O Truvada só é usado no Brasil em pesquisas clínicas com aprovação específica para este fim. “O processo de registro do Truvada junto à Anvisa já dura alguns anos devido a questões relativas à patente do produto, entre outras questões. Como se sabe, o Brasil é capaz de produzir diversos antiretrovirais utilizados no tratamento da AIDS”, esclarece Brenda.

Uma informação importante a respeito do Truvada que deve ficar clara é que ele não substitui o uso do preservativo, pois é considerado um método adicional de prevenção. “O Truvada nunca será um substituto da camisinha, uma vez que este tem apenas ação no HIV. A camisinha é o único método que garante proteção às demais DSTs, entre elas a sífilis, as verrugas genitais (HPV), gonorréia e hepatite B. O importante é identificar as vulnerabilidades e avaliar quem poderia se beneficiar ou não com o uso desse medicamento.”

“Também é importante dizer que o Truvada não é vacina, em que com apenas uma dose a pessoa já está imunizada. Ele deve ser usado de forma regular, como um tratamento, para ser eficaz. Fazendo uma analogia, é como acontece com o anticoncepcional. Para obter o efeito esperado é necessário a pessoa seguir à risca os horários e a frequência com que deve ser tomado. Do contrário, não surtirá efeito. Além disso, também é importante frisar que o Truvada pode não ser indicado para todas as pessoas, uma vez que pode haver uma contraindicação específica.”

Em breve, o IPEC/FIOCRUZ, em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Referência e Treinamento DST / AIDS e Universidade de São Paulo, iniciará um projeto de demonstração de PrEP com o Truvada. “Selecionaremos em cada Estado 200 voluntários para receberem o Truvada, que será doado pelo laboratório Gilead para este projeto. O estudo terá duração de um ano e será voltado para o público HSH (homem que faz sexo com homem) e trans, com o objetivo de tentar demonstrar na nossa população os resultados que foram vistos no estudo anterior (iPrEX). É uma tentativa de mostrar para a população e o governo se há benefício no uso desta tecnologia de prevenção no nosso país. No momento, estamos apenas aguardando a aprovação pelas agências regulatórias, que deve ocorrer até meados deste ano.” Pessoas interessadas em ser voluntárias em projetos de pesquisa podem entrar em contato diretamente com o IPEC/FIOCRUZ.

E-mail: pesquisaclinicadstaids@ipec.fiocruz.com


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