“Sauna e cinemão sempre foram lugares que nunca pensei frequentar. O medo de encontrar alguém conhecido era grande. Com o tempo, a curiosidade de saber como funcionavam esses lugares acabou me convencendo a frequentá-los. A primeira sauna que fui se chamava ‘Trés Chic’. Lá tive algumas de minhas melhores experiências sexuais. Uma coisa que ambos (cinemões e saunas) os lugares são semelhantes: pouquíssimos são os caras obviamente belos, o mais normal é encontrar homens gays comuns. Não que esses lugares não tenham caras mais afeminados, todo lugar tem, mas em menor proporção. No cinema também frequentavam travestis e afins. O que mais me incomodava lá era a higiene, que não existia, por isso frequentei apenas uma vez, só por experiência.”
O depoimento acima foi dado por um urso paulistano que topou nos contar suas experiências nesses pontos de encontros gays. As saunas e sexclubs, antes ambientes escuros e cheirando a alvejante, estão se tornando empreendimentos lucrativos em todo o Brasil. Somente em São Paulo, existem pelo menos cinco casas com programação bear: Chilli Pepper, Le Rouge, UpGrade, Blackout e Peep Lounge. Em outras regiões do País, esse tipo de festa está se consolidando aos poucos, sendo possível encontrar saunas com festas ursinas em Estados como Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná.
“A procura de saunas para a prática do sexo é uma coisa natural dentro da comunidade gay. Aqui em Recife, há os ursos interessados em se relacionar sexualmente, como também há quem esteja interessado no reencontro com os amigos, em bebericar, comer, socializando-se mais fraternalmente com seus semelhantes”, detalha Wagner Martins, responsável pela Confraria dos Ursos de Pernambuco.
Muitos frequentadores de saunas vão a esses locais também para a socialização. Segundo o produtor e DJ Henrique Giraldi, de São Paulo, as saunas que recebem os ursos geralmente são claras e têm esse foco do ponto de encontro. Para ele, as saunas escuras são mais voltadas para a pegação.
Roni Silva, produtor da festa Inside, também percebe este comportamento no Rio de Janeiro. O público que frequenta as saunas lá está interessado em socializar com os ursos e fazer amizades. “Cada vez mais as pessoas encontram na sauna outra opção além do sexo. Tanto na Inside como em outras festas voltadas para esse segmento, o sexo é fator principal, porém não o mais importante. É muito mais fácil fazer primeiro uma amizade e ter o sexo depois”.
Expandindo
Wagner Martins explica que a tradição de festas ursinas em Pernambuco surgiu em saunas da região e que o grupo não se limita a esses bearcontros. “Em Recife, a comunidade bear frequenta os eventos ursinos, como é de costume nos outros Estados, mas não se limita só à Confraria dos Ursos de Pernambuco. Eles também têm seus grupos de amigos, e se confraternizam também em reuniões entre eles, na casa dos amigos, costumam frequentar a praia, shoppings e também as saunas de Recife. O movimento aqui é bastante difundido”, completa.
“A principal sauna pro público bear em Belo Horizonte é a ‘Trés Chic’, que inclusive já recebeu encontros oficiais de ursos. Nela, o clima é mais de camaradagem. Os funcionários da casa são extremamente simpáticos e amigáveis, oficialmente não permitem garotos de programa e se você quiser só sexo basta ir para o segundo andar e aproveitar o grande espaço que a casa dedica aos clientes que buscam por isso”, diz o mineiro Raphael Ernesto, um dos responsáveis pela extinta festa Bear Boom.
Antes da ampliação desse cenário ‘bear-friendly’, a experiência dos ursos nas saunas era bem diferente. Em muitos casos, eles se sentiam acuados no meio de ‘barbies’ e depilados e há inclusive restrições de donos de saunas para a realização desses bearcontros. “Aqui não tem arraigada essa cultura dos ursos estarem sempre nas saunas... E a questão é um tanto quanto interessante porque em contato com algumas saunas daqui de Brasília para fazermos uma parceria, uma delas disse que não gostaria de ver sua imagem associada aos bears, que isso sujaria sua imagem frente aos outros clientes. Lamentável né?”, comenta Thiago Batticelli, responsável pela festa Cerrado Bears de Brasília.
O comportamento em saunas pelo Brasil depende muito da cultura local. Em Curitiba, por exemplo, os ursos são mais tímidos. Segundo um urso que prefere não ser identificado, ao organizar um encontro para gays afim de sexo grupal, cerca de vinte participantes ficaram sem ação e a coisa somente esquentou com a ajuda de uns amigos paulistanos “Convidei três amigos de São Paulo que organizam ‘grupal em sauna’. Eles chegaram bombando na cara de todo mundo. Isso foi o combustível para pegar fogo, o povo se desinibiu e esqueceu a frescura.” Ele também cita que em Porto Alegre o cenário é diferente, que os homens são mais objetivos e vão direto ao ataque. “Existe algo nos homens dessa cidade que não se compara, os caras são bem safados.”
Com o maior investimento nesse tipo de ambiente, a criação de festas temáticas para ursos e programacão direcionada a eles, as saunas ganharam uma estrutura melhor, possibilitando a maior presença deste público nas festas direcionadas aos gays que curtem os peludos.
Mafia Club
Uma opção para os ursos paulistanos a fim de curtir boa música, fazer amigos e depois curtir ‘a pegação’ com espaço dedicado a isso é o Mafia Club, festa comandada por Henrique Giraldi e realizada no Peep Lounge, sexclub na região central de São Paulo.
Inspirado em festas europeias, o Mafia traz a experiência bear do exterior para o público brasileiro: ”O Mafia não deve em nada para a meca dos ursos que foi a ‘Bear Factory’, em Barcelona, fui cerca de 40 vezes nessa que é a referência do Mafia Club. Em número de pessoas, de gente bonita, é igualzinho.” Giraldi ainda comenta que “o Mafia definitivamente não é uma festa de pegação. É uma festa com top DJs da cena e que tem um dos ambientes para tal”.
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